Do convite para participar do I Simpósio Interdisciplinar de Prematuridade de Macaé ao dia do Simpósio transcorreram cerca de três semanas. Nessas três semanas mergulhei e mais uma vez remexi naquele cômodo do coração, aquele que se abriu no dia em que minha filha nasceu, prematura, e ficou internada na UTI. Eu, fui para casa com a “irmã gêmea” que se chamava culpa, conheci também o TOC por limpeza, a obsessão do “só eu posso cuidar” e várias outras nuances do lado sombra da maternidade. Por nove anos se arrastou um puerpério que não fechava! NOVE anos! Sim, cada vez que me lembrava ou falava da gestação e do nascimento me gerava um turbilhão de sentimentos estranhos no peito e um nó na garganta! Mas dessa vez foi diferente! Me vi elaborando cada palavra emocionada, mexida, mas de uma forma tão sublime, repleta leveza e gratidão.
Fui ao Simpósio levar a Dança Materna, a Dança que me curou, a Dança que une e liberta tantas mulheres, a Dança do encontro, dos reencontros, da empatia, do olho no olho, do coração com coração, e o que me levou até ela? A necessidade de me curar e de compartilhar essa possibilidade com outras mulheres-mães.
Esse processo começou na formação, que nos proporciona um mergulho profundo em nós mesmas. Como tocar o outro sem nos percebermos primeiramente? O puerpério é um mergulho profundo, não podemos ser rasas! Não é “somente” dança, é movimento consciente! É um embasamento profundo e respeitoso nas emoções, na fisiologia, na coordenação motora da mulher e do bebê! É concepção do ambiente. É pensar no que cada música, no que cada dança pode mobilizar no corpo e na mente. É troca diária, é presença, é rede de mulheres que se ramifica em rede de mulheres.
Dança Materna é amor em movimento no sentido literal de cada palavra. Sou grata a cada acontecimento da vida que me trouxe até aqui. Grata ao encontro com cada mulher-professora e a cada mulher-mãe que a Dança proporcionou.
Farid Rocha é mãe da Victoria e professora da Dança Materna de Macaé-RJ
Fotos por Fabiola Rocha Photography